Alguns meses antes da sua morte, Mário Cesariny deu
uma entrevista onde fala de si e da sua poesia.
Em Maio de 2006, a convite dos professores Piero Ceccucci e Arnaldo Saraiva, participei em Milão num congresso sobre Eugénio de Andrade, onde tive a oportunidade de encontrar o professor Perfecto Cuadrado. Em conversa com ele sobre o surrealismo português, em que é especialista, dei-lhe conta da minha muita admiração por Mário Cesariny, que por sinal fora grande amigo de Eugénio e que eu só conhecia pelos seus poemas. Para grande surpresa minha, Perfecto Cuadrado passava-me daí a pouco o seu telemóvel para as minhas mãos, dizendo-me que do outro lado da linha estava o autor de Pena Capital. Já não sei bem o que dissemos, para lá da divertida troca informal de cumprimentos. Mas sei que logo ali marcámos um encontro em Lisboa. Esse encontro aconteceu em finais de Junho, num dia invulgarmente quente. Estava longe de saber que esta seria (creio) a última entrevista literária concedida por Cesariny. Mas «a maravilha do acaso», de que o poeta fala, às vezes também ocorre nas vidas quotidianas. Cesariny recebeu-me na sua casa: um sorriso vivo, um olhar aberto e límpido, e aquele seu cigarro, mais cinza do que cigarro, como prolongamento natural dos seus dedos. Uma ironia gentil que qualquer transposição para papel acaba sempre por atraiçoar. E as primeiras palavras, que me receberam à chegada: «Que posso fazer por si? Disponha à vontade.»
Mais um pouco do poeta
Mário Cesariny nasceu na vila Vila Edith em Benfica, era o filho mais novo de Viriato de Vasconcelos e de Mercedes Cesariny. O poeta frequentou o Liceu Gil Vicente durante um ano, após esse ano, Cesariny acabou por fazer curso de ourives na Escola de Artes Decorativas António Arroio, não lhe agradando o trabalho de ourives e Cesariny acabou por frequentar um curso de Belas-Artes. Na década de 1950, Cesariny dedica-se à pintura, mas também, à poesia que escrevia nos cafés. É durante esse período que Cesariny começa a ser vigiado pela Polícia Judiciária por suspeita de distúrbios, e devido à sua homossexualidade. Cesariny vivia com dificuldades financeiras, mas ajudado pela sua família. A meados dos anos 1960, acabaria por se dedicar à pintura, e a partir de 1980, a sua obra poética é reeditada pelo editor Manuel Hermínio Monteiro.
-Manuel Hermínio Monteiro foi empresário português e editor da Assírio & Alvim.
-Assírio & Alvim é uma editora literária de Portugal, fundada em 1972.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Publicação do site ruadebaixo.com, em 2004, sobre Mário Cesariny
- Dezembro parece ser o mês dedicado ao poeta e pintor português.
Dada a quantidade e diversidade de eventos que se realizam durante as próximas semanas em torno do homem e da obra de Mário Cesariny, Dezembro de 2004 bem poderia ficar registado como o mês dedicado ao incontornável poeta e pintor português.
Mário Cesariny, actualmente com 81 anos de idade, é um homem reconhecido pelo fascinante, mas não menos atribulado, percurso pessoal e artístico. Dividindo-se entre a poesia e as artes plásticas, desde cedo se foi distinguindo pela sagacidade da abordagem e da estética defendida nos seus trabalhos.
o mês de Dezembro várias são as propostas que recuperam e recordam o homem e a obra de Mário Cesariny. O documentário “Autografia”, de Miguel Gonçalves Mendes, que houvera estreado e sido distinguido com o prémio de melhor documentário português no último Doclisboa (Festival de Cinema Documental de Lisboa que decorreu de 24 a 31 de Outubro na Culturgest), regressa às salas de cinema nacionais, mais especificamente ao cinema King em Lisboa.
- Uma pequena publicação do site ruadebaixo.com sobre Mário Cesariny no ano 2004 que achai interessante, pelo que vivia Mário Cesariny naquele tempo.
- Dezembro parece ser o mês dedicado ao poeta e pintor português.
Dada a quantidade e diversidade de eventos que se realizam durante as próximas semanas em torno do homem e da obra de Mário Cesariny, Dezembro de 2004 bem poderia ficar registado como o mês dedicado ao incontornável poeta e pintor português.
Mário Cesariny, actualmente com 81 anos de idade, é um homem reconhecido pelo fascinante, mas não menos atribulado, percurso pessoal e artístico. Dividindo-se entre a poesia e as artes plásticas, desde cedo se foi distinguindo pela sagacidade da abordagem e da estética defendida nos seus trabalhos.
o mês de Dezembro várias são as propostas que recuperam e recordam o homem e a obra de Mário Cesariny. O documentário “Autografia”, de Miguel Gonçalves Mendes, que houvera estreado e sido distinguido com o prémio de melhor documentário português no último Doclisboa (Festival de Cinema Documental de Lisboa que decorreu de 24 a 31 de Outubro na Culturgest), regressa às salas de cinema nacionais, mais especificamente ao cinema King em Lisboa.
- Uma pequena publicação do site ruadebaixo.com sobre Mário Cesariny no ano 2004 que achai interessante, pelo que vivia Mário Cesariny naquele tempo.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Afinal o que importa não é a Literatura disse Mário Cesariny
- "Eu acho que se se é surrealista, não é porque se pinta uma ave, ou um porco de pernas para o ar. É-se surrealista porque se é surrealista!"
- "[o amor] É a única coisa que há para acreditar. O único contacto que temos com o sagrado. As igrejas apanharam o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel. O amor é o que nos resta do sagrado."
- "Sou um poeta bastante sofrível numa época em que o tecto está muito baixo."
- "Eu acho que se se é surrealista, não é porque se pinta uma ave, ou um porco de pernas para o ar. É-se surrealista porque se é surrealista!"
- "[o amor] É a única coisa que há para acreditar. O único contacto que temos com o sagrado. As igrejas apanharam o sagrado e fizeram dele uma coisa muito triste, quando não cruel. O amor é o que nos resta do sagrado."
- "Sou um poeta bastante sofrível numa época em que o tecto está muito baixo."
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Um pequeno comentário à poesia de Mário Cesariny
Acho que Mário Cesariny nos seus poemas pretendia retratar o real. O poeta usa o real da vida nos seus poemas para o poder combater, para assim conseguirmos a defesa do amor, da liberdade e da poesia. Um exemplo de retratar o real é o poema “A um rato encontrado morto no parque”.
A um rato encontrado morto no parque
Este findou aqui sua vasta carreira
de rato vivo e escuro ante as constelações
a sua pequena medida não humilha
senão aqueles que tudo querem imenso
e só sabem pensar em termos de homem ou árvore
pois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube)
o milagre das patas – tão junto ao focinho! -
que afinal estavam justas, servindo muito bem
para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar
atrás de repente, quando necessário
Está pois tudo certo, ó “Deus dos cemitérios pequenos”?
Mas quem sabe quem sabe quando há engano
nos escritórios do inferno? Quem poderá dizer
que não era para príncipe ou julgador de povos
o ímpeto primeiro desta criação
irrisória para o mundo – com mundo nela?
Tantas preocupações às donas de casa – e aos médicos -
ele dava!
Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam?
Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpar
e passou nela a roda com que se amam
olhos nos olhos – vítima e carrasco
Não tinha amigos? Enganava os pais?
Ia por ali fora, minúsculo corpo divertido
e agora parado, aquoso, cheira mal.
Sem abuso
que final há-de dar-se a este poema?
Romântico? Clássico? Regionalista?
Como acabar com um corpo corajoso e humílimo
morto em pleno exercício da sua lira?
de rato vivo e escuro ante as constelações
a sua pequena medida não humilha
senão aqueles que tudo querem imenso
e só sabem pensar em termos de homem ou árvore
pois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube)
o milagre das patas – tão junto ao focinho! -
que afinal estavam justas, servindo muito bem
para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar
atrás de repente, quando necessário
Está pois tudo certo, ó “Deus dos cemitérios pequenos”?
Mas quem sabe quem sabe quando há engano
nos escritórios do inferno? Quem poderá dizer
que não era para príncipe ou julgador de povos
o ímpeto primeiro desta criação
irrisória para o mundo – com mundo nela?
Tantas preocupações às donas de casa – e aos médicos -
ele dava!
Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam?
Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpar
e passou nela a roda com que se amam
olhos nos olhos – vítima e carrasco
Não tinha amigos? Enganava os pais?
Ia por ali fora, minúsculo corpo divertido
e agora parado, aquoso, cheira mal.
Sem abuso
que final há-de dar-se a este poema?
Romântico? Clássico? Regionalista?
Como acabar com um corpo corajoso e humílimo
morto em pleno exercício da sua lira?
sábado, 19 de fevereiro de 2011
Mário Cesariny: O Artista
"Cesariny é um sedutor. Cesariny é um danado. O maravilhoso surreal intensamente livre."
Pinturas e Colagens fazem parte da sua obra plástica. No entanto, a pintura e a poesia foram sempre aliadas em Cesariny: muitas obras incluem palavras recortadas, conjugações de textos e imagens, e outras formas experimentais. Mesmo depois de desfeito o grupo surrealista, em 1952, Cesariny seguiu o seu percurso de artista plástico.
Colagem de de Mário Cesariny – réplica do original oferecido pelo autor à associação cultural “Mandrágora”.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Autografia, documentário sobre a vida de Mário Cesariny, do autor Miguel Gonçalves Mendes
Vencedor de Melhor Documentário no Festival DocLisboa de 2004, este documentário pretende-se retratar não o poeta e pintor Mário Cesariny mas sim o percurso da sua vida. Neste documentário existem vários planos, o de análise do poema; o das respostas; o do seu trabalho (exposto na sua intimidade) e o da nossa própria interpretação; uma espécie de respigar de citações e de conteúdos que acabam por nos permitir uma apropriação de Mário Cesariny.
- Miguel Gonçalves Mendes é um realizador português. Licenciado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, frequentou também os cursos de Relações Internacionais na Universidade Técnica de Lisboa, História, variante Arqueologia na Universidade Nova de Lisboa.
Vencedor de Melhor Documentário no Festival DocLisboa de 2004, este documentário pretende-se retratar não o poeta e pintor Mário Cesariny mas sim o percurso da sua vida. Neste documentário existem vários planos, o de análise do poema; o das respostas; o do seu trabalho (exposto na sua intimidade) e o da nossa própria interpretação; uma espécie de respigar de citações e de conteúdos que acabam por nos permitir uma apropriação de Mário Cesariny.
- Miguel Gonçalves Mendes é um realizador português. Licenciado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, frequentou também os cursos de Relações Internacionais na Universidade Técnica de Lisboa, História, variante Arqueologia na Universidade Nova de Lisboa.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Video de Mário Cesariny lendo o poema "Quase" de Mário de Sá-Carneiro
Um pouco mais de sol, eu fora brasa,
Um pouco mais de azul, eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa;
Se ao menos eu permanecesse aquém;
Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim, quase a expansão;
Mas na minhalma tudo se derrama;
Entanto nada foi só ilusão!
Se me vagueio, encontro só indícios;
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios;
Um pouco mais de sol, e eu brasa..
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
Ama como a estrada começa poema do livro Pena Capital.
Na verdade a estrada não chega a começar, começou um dia qualquer nas suas vidas, não se sabe onde nem quando. Semelhante à estrada ! Um pouco confuso, mas quando uma pessoa está na estrada, não sabe onde essa estrada começa...
A palavra Ama, também não se sabe de onde vem, simplesmente instala-se dentro de nós, é semelhante à estrada.
Subscrever:
Comentários (Atom)







